terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Caixa postal

Quando liguei agora foi para que o recado na caixa de mensagens do celular fosse ouvido só depois de semanas, meses, sei lá quanto tempo fosse preciso, ela nunca está para mim. Não deve ouvir o recado, quem é que ouve recados? Quando ligava antes e dizia alguma bobagem, e o que vai fazer, mas eu liguei demais. Às vezes cogito hipóteses, e eu sei que liguei demais, mas, bem, ao certo, nunca se sabe, e é difícil quando se é arrogante, quando se sou eu. O que finjo que sou não difere tanto do que é aquilo que acabo sendo quando me entrego aos pequenos detalhes, àqueles em que eu sei que ligo demais, mas na superfície penso não ter problema, eu finjo não ter problema, ela queria que eu ligasse, não queria? É isso sim, não é? Tentando se convencer de que é verdade. Mas quando eu liguei depois de uns dias, e o telefone não atendeu, e eu deixei a primeira mensagem, a primeira mensagem na caixa de mensagens para que fosse ouvida só daqui a semanas, ou meses, tanto faz, eu estava um pouco resfriado, acho que foi no natal. Posso ser um cara legal, eu posso sim, mas eu continuava ligando demais. Quando eu liguei para ela e ela não atendeu o telefone, pela segunda vez. Eu devo ter deixado outra mensagem só no carnaval. Isso foi depois da terceira, quarta, quinta, e lá se vai a minha memória de quando ela parou de me atender. A segunda mensagem foi algo como, Me liga quando puder, estou com saudades, quero te ver. Na semana seguinte, na aula, tudo como sempre. Oi, como vai? Sorriso. Tenho que ir. Tchau. E mais uma mensagem. É acho que essa foi a terceira. Ah, sim, a primeira, não tinha dito, To ligando pra dizer que estou com sua carteira, você esqueceu na sala, depois fala comigo, e no dia seguinte, eu falei na aula, Ei, tonta, esqueceu sua carteira aqui ontem, nem veio pedir de volta. Mas o terceiro recado, sim no terceiro recado, quando ela já não atendia a mais nenhuma ligação, talvez por isso mesmo eu tenha dito, sim, foi por isso que acabei dizendo Eu te amo, meio rápido, lembrou de quando tinha 11 anos e ligava para Beatriz que sentava na minha frente durante as aulas e eu puxava o cabelo dela, e todo esse lugar comum que é uma criança no telefone ouvindo a voz, só ouvindo, sem coragem para dizer nada, Alô? Alô? Quem está aí? Eu sei que tem alguém na linha, eu to ouvindo sua respiração. Clackt. Mas agora já era grande, grande demais, para essas coisas… Acho que foi por isso que ela não me respondeu.

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