domingo, 25 de janeiro de 2009

Bolinha de Sabão

Ela olhou para mim. e ela era um sorriso. e eu era um sorriso. e éramos tão sorriso juntos que até mostrava os dentes, e ficávamos assim cheios de vergonha. retorcia a boca. tentava disfarçar. mordia o lábio. ela era tão bonita, uma boneca de porcelana, era tão bonitinha. a coisa mais linda que já vi. do meu lado cochichou no ouvido bolinhas de sabão. fez cosquinha. e ria, e era sorriso e dentes, que nem ligava de mostrar o aparelho. e eu nem ligava de mostrar o meu coração. perguntou se era isso que chamavam de amor. disse que não, disse que amor era coisa de gente chata, desesperada - amor é uma faca de cozinha na mão apontada contra alguém ou contra si mesmo - o sorriso apagou - isso que tínhamos era o que ninguém chamava, porque ninguém tinha, era só nosso. chamar de amor seria comparar com o resto do mundo; sorriu de novo. ela era o meu sorriso. éramos o sorriso um do outro. construiria um universo inteiro para guardar esse momento | A felicidade consistia em três quartos d'água e um de detergente. a felicidade eram as bolinhas de sabão que cochichávamos nos ouvidos um do outro. e ela reclamava que fazia cosquinha. e eu mordia fraco a orelha e grunhia feito um monstrinho. eu era um gremilin - gruuaha; -era um gremilin cheio de doces à meia-noite. mordia a bochecha enquanto ela me prendia com suas bolinhas de sabão. te peguei; droga, te amo; não foi você que disse que não era amor?; é verdade, bleah, me pegou de novo; e eu fiquei sem graça. mais ainda quando daquele olhar cor de mamão. a gente tem que dar um nome; continuei sem graça. a gente tem que chamar de alguma coisa se não isso vai ficar se repetindo; fazia bico. sugeri isdruruchi. muito verde-musgo; mordi o seu nariz. mordeu o meu. ela era linda. olhou de canto pensativa. sorriu. já sei; me beijou toda prosa e cochichou no pé do ouvido que não tem pé: Voce é minha bolinha de sabão; fez cosquinha. cochichou de novo: e eu sou a sua; e tentei guardar aquilo num potinho de papelão que tinha no quarto. embrulhei com papel de presente e tinha cheiro de chocolate. chocolate com amêndoas. quis abrir e comer mas resisti. botei no alto da estante mais alta de todas as estantes da casa. tinha medo de perder. de acabar. botei no lugar mais alto possível para que não alcançasse nem se ficasse na ponta dos pés: e nunca mais consegui alcançar.

6 comentários:

Carolina Macedo disse...

ohnnn! que fofinho!

Michele Navega disse...

A-M-E-I isso!!!

cores sem nome disse...

trilha sonora: Kate Nash.

Eu ia falar Cocorosie, mas acho que não deve ter muito a ver não né chico?

LoLo Dantas disse...

eu gosto de fazer bolinha de sabão, e eu gosto de amar de um jeito que não é amor!
Ó Chico!
^^ me derreto como detergente na pia, pelos seus contos...

carolina disse...

Apaixonante! :)

Rafael R. V. Silva. disse...

tempão!