sábado, 9 de agosto de 2008

General Bruce

Escuta, moço, não sei onde moro. Meus pais chamam Carlos e Josefina e tenho irmãos que não olham para mim e não sei o caminho de casa. Se você quiser, eu fico com você, até eu lembrar meu endereço. Sei fritar ovo, fazer suco de morango com leite batido no liquidificador. Dobro roupa, passo, varro. Recorto imagem de jornal, tomo banho todo dia, ando na rua sem pisar nas rachaduras da calçada para não causar terremoto, falo com meu reflexo no espelho, pinço a sobrancelha.

Acordo cedo fim-de-semana e faço história na cabeça, deitada na cama. Me faço amiga do teto. Compro bala na rua e divido com as pessoas. Uso vestido florido mesmo que o dia estiver chuvoso.

Ai, xô ver que mais.

Escrevo carta pruns parentes em Juazeiro. Faço desenho, desenho árvore, flor, cavalo. Sou aquariana. Não sei direito o que isso quer dizer, mas a moça da loja de Umbanda me falou, e eu levo ela muito a sério. Sei dar ponto em rasgo, costuro botão. Eu posso costurar os botões da sua camisa, posso requentar o almoço quando for de noite e você estiver com fome. Trabalho quantas horas for preciso, pela paga que for. Trabalho por tédio, por amor, por sermão, qualquer moeda tá me servindo.

Dou cabo dos teus inimigos e te arranjo amigos. Te faço cafuné e arranjo vagabunda na rua para você. Mulher séria eu não posso garantir, porque eu também não sou milagreira. Arranjo mulher na Lapa, na Glória, ali perto do zoológico. Lá em São Cristóvão, não é longe, de metrô eu chego rapidinho.

O metrô é ali, é a algumas quadras de rua onde eu moro, a General Bruce.

Lembrei moço! General Bruce! Ali tem meu apartamento descascado, Carlos, Josefina e meus irmãos. Ah, fica pra próxima, então. Mas olha, eu tenho uma colega que nem do nome lembra. Biscoito fino, essa, sabe de tudo.

1 comentário:

Eduardo Martins disse...

"Trabalho por tédio, por amor, por sermão, qualquer moeda tá me servindo". Adorei. Parece que escreve com a mão leve, feliz.